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É verdade que o aranto trata o cancro?

15 Nov 2023 - 08:00
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É verdade que o aranto trata o cancro?

Alega-se nas redes sociais que a planta aranto é eficaz no tratamento do cancro. Num grupo do Facebook, escreve-se que o aranto cura o cancro e é “seguro”, se for usado na dose certa.

Na publicação, o autor defende que “muitas pessoas” têm consequências “graves” de saúde porque utilizam o tipo de aranto errado para curar o cancro.

Os “arantos falsos” têm toxinas “fortes e perigosas”, diz, podendo causar problemas “sérios no coração, como um enfarte ou até mesmo morte.

À publicação está anexado um vídeo de um suposto especialista em plantas medicinais que ensina a identificar o alegado aranto que, supostamente, trata a doença.

O especialista garante que está provado em estudos científicos que a planta Kalanchoe daigremontiana (nome científico do aranto) trata o cancro. Mas esta informação é verdadeira?

É verdade que o aranto trata o cancro?

Questionada se o aranto trata o cancro, a médica, nutricionista e investigadora Paula Ravasco é clara: “Não trata. Nem o aranto, nem nenhuma planta similar”.

A especialista adianta que “nunca foi demonstrado cientificamente” que o aranto seja eficaz no tratamento do cancro.

“Não há planta consumida em forma de chá, extrato, elixir ou qualquer outra forma que consiga ter capacidade de eliminar células neoplásicas num ser humano”, explica a diretora do Programa de Pós-graduação Internacional “Nutrição e Metabolismo em Oncologia” da Universidade Católica Portuguesa e professora da Faculdade de Medicina da mesma universidade.

O cancro é uma “doença difícil, agressiva e complexa”, provocada por “múltiplos fatores e cujo tratamento inclui múltiplas intervenções”, aponta.

Além disso, a médica lembra que o aranto, assim como outras plantas, podem ter consequências negativas para a saúde, se forem consumidas em excesso.

“Como são plantas, pensamos erradamente que, à partida, são inócuas, mas quando consumidas em grandes quantidades podem ter efeitos adversos e podem interferir com outras terapêuticas”, sublinha Paula Ravasco.

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O aranto é uma planta nativa do sudoeste de Madagáscar e está naturalizado em “diversas regiões tropicais e subtropicais dos dois hemisfério”, informa o Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. A época de floração é entre fevereiro e abril, acrescenta a mesma instituição.

Com um sabor “amargo” e aroma “agradável”, as folhas de aranto são “suculentas e ricas em vitamina C”. No entanto, a ingestão ou utilização em medicamentos orais é desaconselhada, uma vez que pode ter efeitos “cardiotóxicos”, aponta um estudo à composição de Kalanchoe pinnata e Kalanchoe daigremontiana. Os investigadores sugerem mais estudos sobre o efeito da planta na saúde.

O tratamento do cancro e o papel da alimentação

O cancro pode surgir em qualquer órgão e o risco é cinco vezes maior em pessoas com mais de 40 anos. Em Portugal, os mais frequentes são o da mama, da próstata, estômago e bexiga, informa o IPO de Lisboa. 

Devido à “grande diversidade”, acrescenta a mesma fonte, o cancro não deve ser considerado uma “entidade clínica isolada”.

A cirurgia, a radioterapia, que são tratamentos locais, a quimioterapia e a hormonoterapia são exemplos de terapêuticas no tratamento do cancro, indica o Serviço Nacional de Saúde, num texto informativo.

A escolha do tratamento é “feita caso a caso” e vai depender do tipo de tumor, do tamanho, da localização, da idade, do estado de saúde e se há metástases.

A médica consultada pelo Viral destaca que a alimentação nos doentes com cancro é “absolutamente obrigatória que seja adjuvante” às terapêuticas médicas.

É “fundamental” que a pessoa possa “recuperar e tolerar os tratamentos”.

“Atualmente, os especialistas têm a certeza que os doentes oncológicos têm um risco muito aumentado de desenvolver desnutrição, perda de peso, que se expressa sobretudo em perda de massa muscular”, diz a especialista.

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A partir do momento em que o doente “perde reservas de músculo, aminoácidos, começa a tolerar cada vez menos os tratamentos, que por sua vez se tornam mais tóxicos e menos eficazes”, explica.

Nesse sentido, há “recomendações muito específicas” para uma alimentação “adequada”, isto é, uma ingestão “adequada e consistente” do que precisam.

Por isso, aconselha Paula Ravasco, os doentes, familiares ou cuidadores devem procurar o apoio de um nutricionista para os períodos de tratamento e pós-tratamento, visto que estes profissionais têm “conhecimento e treino em relação aos alimentos e à ingestão adequada”.

Ou seja, além das terapêuticas médicas, como a quimioterapia, radioterapia e cirurgia, a investigação científica diz que é “absolutamente essencial” olhar-se para “várias frentes” – psicológica, física e alimentar – com uma equipa multidisciplinar.

Ao Viral, a investigadora reconhece que há “muitos grupos a investigar e a publicar” na área da oncologia. No entanto, há uma “demora muito grande” entre o que a “ciência mostra e a prática”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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15 Nov 2023 - 08:00

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